sábado, 27 de outubro de 2007

De Paola a Fuscaldo (a peh, pela praia, e sob vendaval) - 21-10-07






























































Apos passar a noite em Cosenza, acordei disposto a cumprir minha missao: chegar a Fuscaldo. A principio, seria bem facil. Bastaria que fosse a Paola, e de lah pegasse um trem a Fuscaldo.



Pois eh, parecia. Mas nao foi assim que ocorreu.


Chegando a Paola, descobri que nao existiam trens para Fuscaldo naquele dia. Era domingo, e devemos lembrar que Fuscaldo eh uma cidade bastante pequena. Qual foi a ideia "genial" que tive?


Bem, voces jah leram o titulo desse "post". Isso mesmo, resolvi ir a peh. Nao poderia atrasar um dia de minha viagem para aguardar segunda-feira e voltar a Fuscaldo. E tambem nao poderia chegar tao perto e desistir. Missoes existem para serem cumpridas, e esta eu nao poderia deixar de faze-lo, afinal foi uma das principais motivacoes para minha viagem.
No calcadao da praia, em Paola, por sorte encontrei um senhor que passeava com seu cachorro, que me indicou as coordenadas de Fuscaldo. Seriam cerca de sete quilometros de caminhada.
Primeiro problema: por onde ir? Hah apenas uma auto-estrada que liga Paola a Fuscaldo. Como ainda era cedo para virar massa asfaltica, preferi adotar o caminho alternativo, ou seja, pela praia. Facil?
Na teoria, sim. Mas parece que naquele momento tudo conspirava contra mim. Primeiro, carregava duas mochilas, como uma carga total de cerca de 15 kg, jah que nao havia lockers na estacao ferroviaria de Paola, que estah parcialmente em obras.
Segundo, a "areia" da praia nao eh fofa nem macia como nas nossas lindas praias brasileiras. Eh de pedra, muitas pedrinhas. O que dificulta mais ainda a caminhada.


Terceiro: ventava. Mas nao ventava pouco. Havia um vendaval. Ouvia-se o rugir do vento alto e e forte, e a forca era tamanha que varias vezes tive que me segurar para simplesmente nao ser arrastado devido a sua forca.

E assim, com condicoes extremamente desfavoraveis, comecei minha caminhada. Na praia, nao havia uma alma viva. Era dificil acreditar que estava na Italia, e nao em uma praia perdida em alguma ilha distante do oceano pacifico. As pedrinhas a todo momento entravam pelo sapato, o que reduzia minha velocidade de marcha.
No meio do caminho, varias surpresas. Muitas vezes a praia terminava, e tinha que subir pequenos barrancos, alguns com muita lama. Outras vezes, nem havia barrancos, e tive que seguir literalmente pela agua. Parecia uma provacao biblica, e o barulho do vento era realmente assustador.

Pelo caminho, vestigios de uma antiga civilizacao, tais como pontes antigas destruidas, corroidas pela acao do tempo, bem como pequenos e rusticos tuneis que atravessavam a linha do trem, que se situava ao lado da praia, acima de um barranco. Havia tambem alguns pequenos riachos, que desaguavam na praia.

Apos quase tres horas de dificil caminhada - e nenhuma alma viva pelo trajeto - finalmente cheguei a praia de Fuscaldo. Soube disso jah que de lah avistei a estacao de trem de Fuscaldo. Apos um breve descanso, segui rumo a cidade.
A cidade estava completamente deserta. Parecia ter sido vitima de um ataque quimico ou algo do genero. Apenas ouvia-se o vento, cada vez mais forte. A estacao de trem estava abandonada, cheia de grafites pela parede, e ouvia-se informacoes do alto-falante sobre trens em transito, apesar de nao haver ninguem por ali.


Fuscaldo eh dividida em duas partes: Fuscaldo Marina (onde estava) e Fuscaldo historica. Fuscaldo marina em muito assemelhava-se a Paola. Era uma cidade basicamente de veraneio. Com alguns restaurantes e casas de praia (fechados, claro). Fuscaldo historica se situava bem ao alto de uma colina, donde se avistava uma Igreja muito antiga. Qual foi a "brilhante" ideia que tive? Bem, se estava ali, deveria ir ateh o final. Resolvi subir.


Se a caminhada pela praia havia sido dificil, a subida foi muito pior. Peguei uma estrada em direcao a Fuscaldo historica. Soh que a caminhada era muito, muito longa, mais alguns quilometros, que nao sei precisar. Pelas fotos acima, tiradas do alto de Fuscaldo, dah para se ter uma nocao da distancia entre ambas partes da cidade.


A medida que subia, o vento aumentava. O frio crescia na mesma proporcao. Do alto das montanhas se avistava gelo. No caminho, vi algumas casas, plantacoes e um cemiterio. Ao chegar na metade, comecou a chover. Creio que em poucas vezes na vida passei por uma situacao tao dificil como essa: chuva, ventania, cansaco fisico. Mas estava realmente decidido a chegar ao alto, e se fosse uma provacao, passaria por ela. Tantas vezes na vida desistimos das coisas sem lutar o suficiente, nao me sentiria bem comigo mesmo se fizesse isso depois de tudo que jah havia feito para chegar ateh lah.
E por mais surpreendente que seja, consegui!Mal acreditei quando cheguei. Apesar da chuva, sentei-me em um banco a frente da Igreja (fechada tb) e fiquei por alguns instantes admirando a cidade do alto. A visao era realmente linda. Pelas casas de Fuscaldo velha, que se avistava dali, parecia que havia voltado para um passado distante, e imaginei que talvez naquele mesmo banco onde estava sentado, meu avo tambem tenha estado um dia, vendo aquela paisagem tao bonita.

Enfim, o sacrificio fora recompensado. Mas agora tinha outro problema: como voltar?

Se fosse uma pessoa religiosa, diria que foi um milagre de Sao Francisco de Paola o que ocorreu a seguir. Mas encontrei uma alma vida justamente ali, em frente a Igreja, na entrada de Fuscaldo historica. Chamava-se Franco, e perguntou o que fazia ali, jah que a cidade estava toda fechada. Contei a historia toda para ele. Por sorte ele era um parente distante! hehehe Apesar de nao ser um Santoro, disse que tem varios na familia. E que Fuscaldo eh uma cidade extremamente pequena, com apenas 900 habitantes, e lugar onde nasceu a mae de Sao Francisco de Paola (por sinal, disse haver muitos "Santoros" em Paola). Disse que tem contato com varios parentes em Sao Paulo, para onde vai ano que vem. Ficou muito feliz de saber que eu era um parente (fisicalmente era realmente muito parecido, algo que ele notou tb). Gentilmente me ofereceu uma carona ateh Paola, o que foi minha salvacao, jah que seria muito dificil fazer todo aquele caminho de volta a peh. Disse que poderia saber toda a relacao de parentes, procurando a Comune de Fuscaldo (especie de Prefeitura), bastaria voltar no dia seguinte. Falou tambem que durante a semana hah um onibus que liga Fuscaldo Marina a Fuscaldo Historica. Resolvi deixar essa tarefa para uma outra oportunidade.


Apos peguei um trem para Napoles. Cheguei por volta de sete e meia da noite. A estacao de Napoles eh pior do que a Central do Brasil. Suja, desorganizada, caotica. Nao havia qualquer posto de informacao. Como Napoles eh uma cidade nao muito segura (segundo meu livro guia, apenas em 2004 houve mais de 100 homicidios ligados a mafia), bem como nao tem tantos tantos atrativos turisticos assim, resolvi rumar a Roma, onde passaria a noite e no dia seguinte veria para onde ir, afinal, jah estava cansado de aventuras por aquele dia. Achei um hotel bom e barato perto da Estacao Termini onde passei a noite.


Na manha seguinte, decidi rumar a Veneza. Continuarei no proximo post. Ah, e para atualiza-los agora estou em Munique, Alemanha!

18 comentários:

Maurício Santoro disse...

Ha ha ha!

Entendeu por que vovô emigrou para o Brasil?

Abraços

Anônimo disse...

Oi primo!!!! Finalmente Fuscaldo!!! rsrsrs qd vc chegar ao Brasi...se prepare..terá que responder um inquérito!!! Eu já ouvi falar de Munique..se eu n me engano essa cidade abrigou a Copa do Mundo!Deu tempo de visitar o Coliseu? Lembro da minha profª de História falando que Nero ia lá cantar! E em Veneza, andou de Gôndola?? Bjaum

Anônimo disse...

Marcio,sua via crucis valeu mesmo.Fiquei muito emocionada lendo seu relato.Varias vezes tive q parar de ler,pois chorava muito!!!Vc fez o q sempre tive vontade de fazer.Obrigada ,sobrinho.Foi bom demais!!!!!!

Márcio Santoro disse...

oi, tia! Poxa, fico muito feliz que vc tenha gostado. Sei que nao fiz essa viagem ateh lah apenas por mim, mas por todos nos! Tenho certeza de que em Fuscaldo historica as coisas nao mudaram muito desde o tempo em que ele partiu de lah. Infelizmente nao pude passear muito pela cidade, pois tive que aproveitar a carona. rs Um grande beijo!

Márcio Santoro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Márcio Santoro disse...

oi, prima! Munique foi sim uma das cidades que abrigaram a copa do mundo aqui na Alemanha. Em Roma nao visitei nada, pois parti direto para Veneza no dia seguinte. Mas em 2006, quando tb estive lah, visitei o Coliseu. Se quiser, depois mostro as fotos para vc no Brasil. Beijos!

Márcio Santoro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Márcio Santoro disse...

Fala, Mauricio! Realmente, fico imaginando como deveria ser dura a vida naquele pedaco de chao na epoca do vovo com frio, fome e guerra. Abracao!

Anônimo disse...

Oi,Márcio!
Não sei o que houve,mas não entrou o comentário que eu postei logo após ter lido o seu relato. Vamos ver se esse vai entrar.
Fiquei muito emocionada com o relato da sua peregrinação a Fuscaldo,não sei como você teve forças de ir até o fim,pois foi muito sacrifício.Em vários momentos,confesso a você que não deu para segurar as lágrimas,pois lembrava dos relatos do papai e da tia Angélica sobre essa cidade natal deles. Será que aquela foto da Ponte era a ponte que o seu avô dizia que via os combates da 1ª Guerra Mundial ? Acho que ,se ele fosse vivo,estaria,também ,muito emocionado e orgulhoso dessa Jornada que o neto fêz.
A emoção é muito grande! Valeu !
Beijos carinhosos da sua mãe.

Márcio Santoro disse...

Oi, mae! A emocao foi muito grande pra mim tb, e o isolamento e a dificuldade do trajeto soh fizeram aumentar essa sensacao. Nao tinha como desistir, e estava disposto a fazer o que fosse necessario para completar aquela jornada. Quando caminhava,lembrei muito do que meu avo falava, e quando vi aquela ponte, a primeira coisa que me veio a cabeca foi justamente aquela historia sobre os combates da primeira guerra. Infelizmente vovo nao estah mais aqui para confirmar, mas prefiro acreditar que seja aquela ponte da foto, afinal, pelo estado em que se encontra parece estar lah realmente hah muitos anos. Um grande beijo!

Anônimo disse...

Ciao, Márcio, saudações!! Em seu relato, confesso me senti lá! Suas fotos me mostraram porque meu avô escolheu Ilhabela (Litoral Norte de SP) para viver por um tempo (Lembra muito Fuscaldo)! Também sou neta de um imigrante italiano que nasceu em Fuscaldo no final do século XIX! Ernesto di Lucca (Di Lucca Ernesto)!! Infelizmente já falecido! Chega um momento em que procuramos mesmo nossas raízes... e como você... estou em busca das minhas!! Você fez o que pretendo!Gostaria muito de poder trocar figurinhas! Se puder fazer contato agradeço muito: eliane.comunicacao@uol.com.br
Um abraço,
Eliane de Lucas (disppensa dizer que o -s acrescentado se deve ao serviço de imigração, né?!)

Tricarte disse...

FIQUEI DEVERAS EMOCIANADO EM LER E RELER A SUA VIAGEM A MARINA DE FUSCALDO ONDE EU NASCI EM 1931. SOU DA FAMÍLIA TRICA E VIAJAMOS PARA O RIO DE JANEIRO EM 1936. NÃO SEI SE AINDA TENHO PARENTES POR LÁ. MINHA MÃE É CASCARDO, MEU PAI TRICA. AGORA VIVO EM CURITIBA -BRASIL. MUITO GRATO PELA EMOÇÃO.MUITA GENTILEZ EM TRAZER ESTAS LEMBRANÇAS.
TRICA ANTONIO -

Márcio Santoro disse...

Trica e Eliane, infelizmente só li seus recados agora, pois há muito não acessava este blog. Confesso que fiquei muito emocionado com o que escreveram, e agradeço por terem comentado. Saber que atráves de meu breve relato contribui um pouco para reavivar lembranças e trazer um pouquinho da velha Itália para o Brasil já fez este blog valer a pena. Espero que tenham oportunidade de ler essa resposta. Muito obrigado. Um forte abraço, Márcio.

Anônimo disse...

Obrigado pela gentil resposta. Continuo aguardando noticias de possíveis parentes em Fuscaldo
Trica

Anônimo disse...

eu ha leido de Fuscaldo, maravilloso relato , os felicito.He nacido allí y me ha emocionado con recuerdos.
Marina di fuscaldo es mencionada por un poeta, que leí hace días Carlos martian en la Cuerda sensible.
Cuantas emociones.
Obrigado.
Leonor Legro de Chile.

Tania Pagano disse...

Olá Marcio,
Foi muito bom encontrar seu blog para organizar minha viagem, que realizaremos agora em dez/2011. Meu pai nasceu em Fuscaldo e infelizmente já falecido mas agora vou fazer esta viagem com meu marido e filhos.
A grande herança que ele deixou para nós é a dupla cidadania e como cidadã italiana vou poder conhecer tudo que ele tanto amava. Obrigada por trazer informações e fotos tão bacanas.
Abs,
Tania Pagano

Márcio Santoro disse...

Tania, fico feliz que o blog tenha sido útil! Sem dúvida a viagem à terra natal de seu pai com sua família será uma experiência muito emocionante. Boa viagem! Abraços, Márcio.

Vanessa disse...

Olá Márcio, tudo bem? Adorei. Relato da sua visita a fuscaldo. Meu sogro nasceu em lá. Estamos planejando uma viagem com toda família no próximo ano (2013). Ele se chama Nicola Carmine Zaccaria e nos conta muitas historias sobre a cidade.